No meu trabalho de recolocação dos artistas brasileiros ditos “Os Modernistas”, venho observando a crescente e merecida valorização do papel (estudos, desenhos, guaches) sempre associada à função de melhor reconhecimento da obra autoral.
O interesse pela evolução do pensamento criativo do artista denota o progressivo amadurecimento dos colecionadores; em Victor Brecheret é supérfluo qualquer comentário. A essencialidade de seu traço no papel – de qualquer época – é flecha certeira destinada à obra escultórica final – “clean”, sempre, impreterivelmente.
É esta característica destes desenhos tão despojados que despertou meu interesse galerista: a irresistível tentação de mostrar o caminho, a intimidade da criação artística.
Lembro-me bem. À mesa, após o jantar, ele ficava horas calado, desenhando sem parar. Não eram trabalhos de um desenhista. Eram estudos, pesquisas e investigações para alcançar a figura acabada de uma nova criação. Desenhos de escultor, que definiam formas, volumes ou linguagens com pouquíssimos traços.
Era extremamente exigente com sua arte, com a técnica, com os materiais. Artista criador e insatisfeito, trabalhava vinte e quatro horas por dia. De formação rigorosa, não aceitava encurtar caminhos ou desviar de objetivos, porque a técnica requerida era em alguns casos trabalhosa. Insistia, persistia, criava, produzia. Meu pai, como desenhista, era acima de tudo um artista integral.
Obras participantes
Victor Brecheret "Anunciação" (déc. 20) lápis e sangüínea 33 x 44 cm. Victor Brecheret "Nú Masculino" (Roma 1914) pastel 163 x 67,5 cm. Victor Brecheret "Depois do Banho IV" (déc. 40) tinta china 29 x 20 cm. Victor Brecheret "Namorados" (déc. 40) tinta china 30,5 x 21 cm. Victor Brecheret "Depois do Banho I" (déc. 40) tinta china 30,5 x 20 cm. Victor Brecheret "Depois do Banho II" (déc. 40) tinta china 30,5 x 20 cm. Victor Brecheret "Estudo p/ Afresco Capela Pararanga" (1954) tinta china 22 x 35,5 cm. Victor Brecheret "Mãe Índia" (c. 1950) bronze 27 x 9 x 6 cm. Victor Brecheret "Tema Indígena" (déc. 50) tinta china 21 x 31 cm. Victor Brecheret "Maria Della Costa no Canto da Cotovia" (1955) bronze 190,5 x 73 x 39 cm. Victor Brecheret "Três Graças" (c. 1948) tinta china 30 x 20 cm. Victor Brecheret "Olívia Guedes Penteado" (1934) mármore 49 x 76 x 23 cm. Victor Brecheret "Drama Marajoara" (c. 1951) bronze 38 x 41 x 10 cm. Victor Brecheret "O Índio e a Onça" (déc. 50) tinta china 21 x 31 cm. Victor Brecheret "Graça I" (1940) terracota 41 x 25 x 22 cm. Victor Brecheret "Cabeça de Menino" (c. 1924) mármore 25 x 15 x 15 cm. Victor Brecheret "Fauno" (déc. 40) mármore 56 x 15 x 19 cm.